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SINAL, edição portuguesa da SIGNAL

O INÍCIO DA EDIÇÃO EM PORTUGUÊS: JUNHO DE 1941

A revista SIGNAL iniciou a sua publicação em Abril de 1940, editada sob a responsabilidade directa da Deutscher Verlag como edição especial do periódico “Berliner Illustrierte Zeitung”. Esta publicação começou com quatro línguas distintas e outras tantas edições. Com a continuação da guerra, e a necessidade de atingir directamente públicos cada vez mais vastos e exigentes com a sua propaganda, os alemães decidiram produzir edições num número crescente de línguas. Entre estas, uma edição em português cujo primeiro número foi o 12 de 1941, correspondente à segunda quinzena de Junho desse ano.

A cada edição foi atribuído um código próprio, por ex. alemã D, inglesa E, francesa F, italiana D/I e I, etc. No caso da edição portuguesa, o código atribuído foi “Po”, abreviatura da palavra alemã “Portugiesisch”, aposto no canto superior esquerdo da capa da revista.

Este número (12/ 1941) viria a distinguir-se dos seguintes por ter sido impresso na Alemanha (Berlim, Kochstrasse), o que se constata pela referência “Printed in Germany”, a qualidade do papel e das tintas. Os números subsequentes da edição portuguesa até ao n.º 7 de 1944 viriam a ser impressos em Patris, na casa Curial-Archereau, a tal que viria também a imprimir a YANK, casa essa que no sistema de controlo alemão tinha o código DZ210. O conteúdo das revistas foi sempre preparado em Berlim na sede da Deutscher Verlag, e as matrizes enviadas para Paris para serem impressas. Por vezes, os tipógrafos deixaram por apagar pequenas referências escritas em alemão nas margens das páginas, que comprovam terem tido origem na Alemanha. A qualidade do papel das revistas foi sempre boa, e excelente no caso das páginas a cores, ao contrário de muitas revistas impressas na mesma casa. A Deutscher Verlag teve sempre o cuidado de manter a SINAL com a melhor qualidade de papel e de impressão possíveis.

O TÍTULO: SINAL

Por acordo com as autoridades portuguesas, a edição portuguesa da SIGNAL recebeu desde o seu início o título SINAL, que foi inserido nas revistas com os números 12 de 1941 ao 6 de 1944. A revista foi sempre editada em português, ao contrário de outras edições como a espanhola ou a italiana, que tiveram períodos de edição bilingue (ex.: italiano/ alemão ou espanhol/ alemão). Por razões de uniformização editorial,  a partir do n.º 7 de 1944 todas as edições incluindo a portuguesa passam a ter SIGNAL como título da revista. Assim, esse será também o título dos números de 1945 (1 e 4).

A EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

A edição em português é constituída por 68 números, assim distribuídos:

1941: 12 ao 23/24. 1942: 1 ao 23/24. 1943: 1 ao 24. 1944: 1 ao 7.

1945: 1 e 4, mais o SIGNAL EXTRA n.º 6 (V2)

Os registos da Deutscher Verlag dão conta da impressão de exemplares em português ao longo de todo o ano de 1944, mas somente são conhecidos os números 1 a 7. Apesar da estatística mencionar a impressão de 13.000 exemplares de cada número do 8 ao 19 deste ano, até ao momento não apareceu nenhum destes.

ALGUMAS PARTICULARIDADES DA EDIÇÃO EM PORTUGUÊS

A partir do n.º 19 de 1942 a revista recebe artigos que são próprios a esta edição, que ocupam em média três a quatro páginas por número, com excepção dos números de 1945. Mais tarde daremos lista detalhada destes artigos reportando à edição-base, que é a alemã.

Ano a ano, as peculiaridades mais relevantes são as seguintes:

1941: O número 12 é produzido e impresso em Berlim, os seguintes produzidos em Berlim e impressos em Paris. Neste ano, grande parte da edição em Português é enviada para o Brasil, o que aconteceu pelo menos até ao mês de Dezembro. A partir da declaração de guerra da Alemanha aos Estados Unidos da América na sequência do ataque japonês a Pearl Harbor, os submarinos alemães passaram a bater as rotas comerciais das Américas e tornaram o tráfego marítimo quase impossível. O Brasil veio a declarar guerra à Alemanha em Setembro de 1943, enviando unidades militares terrestres e aéreas para combater na Itália. Assim, o ano de 1941 é mais difícil de encontrar do que os anos de 1942 e 1943, devido à distribuição para os dois países duma tiragem não muito elevada. A distribuição da SIGNAL em Portugal, que em final de 1940 pouco ultrapassa os 8.000 exemplares, vai apesar de tudo subindo ligeiramente.

1942: A partir do n.º 19, presença de artigos especificamente destinados à edição em português numa média de 3 a 4 páginas por número salvo excepções, até ao n.º 7 de 1944. A distribuição em Portugal estabiliza num número acima dos 10.000 exemplares.

1943: O número 8 deste ano não é conhecido completo. com efeito quatro das suas páginas foram cuidadosamente cortadas em todos os exemplares conhecidos. O artigo retirado parece ter sido “A mulher portuguesa de 1943”, cujo título aparece no sumário. Este artigo veio a surgir de novo no número 14 do mesmo ano, o que sugere ter existido alguma anomalia séria na primeira versão. Pelos vestígios existentes no n.º 8, a composição gráfica foi mantida, pelo que a “gralha” deve ter sido no texto. Segundo a PVDE, a distribuição da SINAL atinge neste ano os 15.000 exemplares. É também o ano em que a produção global da SIGNAL, considerando todos os locais onde era impresso, ultrapassa os 2.400.000 por número, certamente um dado muito significativo.

1944: Este ano é importante para a SIGNAL em português. Segundo informação do meu amigo Alexander Zoller, existem documentos internos da casa editora, a Deutscher Verlag, que dão conta da preocupação pela quebra de receitas registadas na venda da revista, em toda a Europa. As vendas da revista eram consideradas como o reflexo da influência da revista, e ajudavam a manter os custos controlados. Por razões comerciais a direcção da Deutscher Verlag decidiu avaliar a receptividade do público à edição da revista com novas e atractivas capas a cores. Paralelamente, seria também uma resposta ao surgimento da VICTORY (USA) e da introdução de cor nas páginas interiores da WAR IN PICTURES (Grã Bretanha). Assim, Portugal e Espanha foram escolhidos para ensaiar as novas capas devido à queda significativa das vendas nestes dois países. Como atrás se disse, segundo a PVDE eram distribuídos em Portugal nos anos de 1942 e 1943 cerca de 15.000 exemplares por número. Ora em 1944 estes números baixaram para quase metade, e a percentagem de exemplares vendidos comparativamente com os oferecidos ainda mais, reflectindo desinteresse do público. Assim, Portugal e a Espanha foram objecto desta experiência destinada a aumentar as vendas e a receptividade da revista, e devido a essa circunstância têm o privilégio de ter três números, os 4, 5 e 6, com capas a cores que não existem em mais parte alguma. No caso português, a Deutscher Verlag incorreu no custo adicional de manter o título SINAL, o que obrigava a preparar matrizes em duplicado. Estes números são muito procurados, em especial aqueles que têm uma estrela de 4 pontas inserida num círculo sob a numeração. Há quem diga que estas estrelas distinguem os números distribuídos na embaixada, mas pessoalmente duvido desta explicação. Conhecem-se com esta estrela os números 4, 5, 6 e 7. Na edição espanhola existem estrelas nestes e ainda no número 8. O número 7 chegou a Portugal com atraso relativamente ao resto da Europa. Segundo o meu amigo Sérgio Trémont, alfarrabista do Porto e coleccionador entusiasta da SIGNAL, ele próprio, muito jovem, comprou um exemplar num quiosque do Porto em Junho de 1944. Teoricamente, o número 7 deveria ter chegado a Portugal em Abril, mas tal não ocorreu. Os números seguintes, 8 a 19, não são conhecidos em português por razões que se ignoram. As estatísticas da Deutscher Verlag fazem menção da sua impressão em Berlim, local para onde foi transferida a impressão da edição em português após a queda de Paris, e até mencionam o número de exemplares impressos, 13.000 por número (!), mas não há nenhum registo até ao momento de terem aparecido. Existem diversas hipóteses explicativas, uma das quais sugere a impressão e imediata reciclagem das edições, outra aponta para a “fabricação” das estatísticas para efeitos internos ou externos. O facto é que se ignora o que terá ocorrido.

Fotografias dos números 4, 5 e 6 de 1944, edição Po.

1945: Apenas excepcionalmente viriam a ser referenciados exemplares em português de 1945: conhece-se a existência de dois exemplares do n.º 1, dois do n.º 4 e apenas um do SIGNAL EXTRA n.º 6. A impressão destes números é um mistério, pois nenhum deles foi localizado em Portugal. Durante a guerra, chegaram cá exemplares do n.º 1 em francês, do n.º 2 em alemão. Que eu saiba mais nenhum. A própria Esfera publicou no seu n.º 107 de 20 de Janeiro de 1945 uma tradução para português de um dos principais artigos da SIGNAL n.º 1/1945, sugerindo que se desconhecia que essa revista existisse em português. A própria data da publicação d’A ESFERA sugere que havia conhecimento desse conteúdo em 1944, o que vai de encontro a algumas teorias que dizem que os números 1, 2 e 3/ 1945 da SIGNAL foram de facto impressos em 1944. Quanto ao número 4 de 1945, existe a hipótese deste número ter sido preparado e impresso por razões estritamente internas aos mecanismos da propaganda, sem intenção de o distribuir. Existe um memorando datado de Fevereiro de 1945 que sugere a possibilidade da sua produção. O n.º 4 de 1945 foi produzido em quantidades mínimas em línguas cuja edição já havia sido interrompida. De qualquer modo, os exemplares em português de 1945 são duma raridade extrema, pois a respectiva tiragem não chegou aos 1.000.

Em breve mais acerca destes temas

Augusto Mouta


3 Responses to “SINAL, edição portuguesa da SIGNAL”


  1. 1 Massimo
    October 5, 2011 at 7:54 pm

    ARTICOLO MOLTO INTERESSANTE

  2. 2 aline
    January 26, 2015 at 3:23 pm

    Olá. ..
    Gostei de seu tópico pois pesquiso a revista Em Guarda.
    Onde eu encontro o acervo desta revista Signal?
    Att.
    ALINE

  3. 3 Nuno Santos
    September 11, 2016 at 9:53 am

    Desde já, parabéns pelo excelente artigo aqui documentado. Foi este mesmo artigo que me levou a querer adquirir toda a coleção. Sei que não será fácil… mas, vamos ver. Neste momento já tenho 37 Revistas, todas elas em Português. É esse o meu objectivo.

    Mais uma vez, parabéns pela informação detalhada.

    Cumprimentos

    Nuno Santos


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